TOCAM OS SINOS DA TORRE DA IGREJA...
O som é inconfundível, todos o conhecem quando escutam. A maioria das Igrejas tem um, ou às vezes mais. Hoje falaremos dos sinos da nossa Igreja.
Sino vem da palavra sinal. Os sinos têm uma função básica: comunicar, tendo assim um papel social. Pode ser simplesmente as horas, como pelo ritmo do toque sabemos se faleceu alguém ou se irá começar uma celebração litúrgica na Igreja, ou, se toca a repique, é sinal de um casamento ou outra festa na Igreja.
Fotografia 1 – Igreja Paroquial do Vale de Santarém,
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Os sinos são
instrumentos antigos que desempenham um papel importante na história e na
cultura das sociedades. Acredita-se que os primeiros sinos tenham sido criados
na China, há mais de 5 mil anos, e depois se espalharam para o resto do mundo.
Na Europa, os sinos foram introduzidos pelos romanos durante a sua expansão
territorial. Na Idade Média, os sinos foram adotados pelas igrejas cristãs, e
tornaram-se um símbolo da fé e um meio de comunicação com a comunidade.
Na torre da
Igreja de Nossa Senhora da Expectacão, já em 1911 estavam inventariados dois
sinos. Contudo, os velhos sinos foram sendo substituídos por outros, durante o
século XX.
Mas não são os dois
sinos que ouvimos todos os dias. Normalmente ouvimos apenas o badalar de um
sino. O sino realiza o seu toque de meia em meia hora. Quando dá hora certa, o
sino bate o número relativo à hora. Por exemplo, se for 10 horas, o sino dará
dez badaladas, se for 11 horas, onze badaladas, e assim sucessivamente. Quando
o relógio marca meia hora, por exemplo, às 10h30, o sino dá uma badalada.
O sino da paróquia do Vale de Santarém, que ouvimos frequentemente, foi
produzido no Norte de África em 1934! E por esse motivo é um exemplar único na
Diocese de Santarém, e provavelmente a nível nacional.
Tem gravado em si o seguinte texto em Francês, que traduzimos:
“Oferta à Paróquia
Eu chamo-me: Maximiliano-Maria Teresa
E peso 260kg
Fui abençoado em 1934
Quando sua Excelência o Monsenhor Durant era Bispo de Oran
Pelo Sacerdote Mollard
Padrinho Sr. Maximiliano Rato
Madrinha: Sra. Maria Teresa Torres”
Doado à paróquia pelos padrinhos, foi fundido numa fábrica de sinos em Orán.
Orán é uma
cidade localizada no noroeste da Argélia, na costa do Mediterrâneo. É a segunda
maior cidade do país, depois da capital, Argel, e é um importante centro
comercial, industrial e cultural.
A cidade tem uma
história rica e diversa, que remonta pelo menos ao período romano. Foi ocupada
por várias potências ao longo dos séculos, incluindo os berberes, os árabes, os
turcos otomanos, os espanhóis e os franceses. Como resultado, a cidade tem uma
mistura fascinante de arquitetura e influências culturais.
Orán é conhecida
pela sua música, dança e teatro. A cidade é o lar de muitos artistas e músicos
notáveis, e tem uma cena cultural vibrante. Além disso, Orán é famosa pela sua
culinária, especialmente os seus pratos de frutos do mar.
A cidade também tem vários pontos turísticos interessantes, incluindo a
mesquita de Sidi El Houari, o forte de Santa Cruz, a catedral de Santa Cruz e a
grande praça de Ibn Badis.
Mapa 1 – Localização de Orán no Norte de Argélia
O Sino tem gravadas as armas episcopais de Leon Durand:
Fotografia 2- Armas episcopais no Sino da Igreja do Vale de Santarém. |
Figura
1 – Armas Episcopais de D. Leon Durant |
Uma barca propriamente dita, com 7 remos e uma âncora, carregada na proa, com
uma pomba com um ramo de oliveira, uma vela também Argenta, carregada com um
coração inflamado rodeado por 7 rosas, no topo um lírio de talo próprio, a
referida barca navega num mar tempestuoso.
Tem também inscrita no Brazão Episcopal: “Veritatem in charitate cum Maria
matre Jesu”, em português: “Verdade na caridade com Maria mãe de Jesus”.
Fotografia 3- Bispo Leon Durand em 1931
O sino é dedicado, e por isso tem também gravada a imagem de Nossa Senhora
da Graça, que antes estava no altar da Catedral de Orán:
A
Diocese de Orán foi estabelecida em 1866 e abrange a província de Orán, bem
como partes das províncias de Mascara e Saida. A diocese tem uma longa história
na região, e foi um importante centro missionário durante o período colonial
francês. Durante a Guerra da Independência da Argélia (1954-1962), muitos
padres e religiosos foram expulsos do país e a igreja sofreu repressão (a
antiga catedral é hoje uma biblioteca pública). Desde então, a diocese de Orán
tem trabalhado para reconstruir e manter a sua presença na região, onde o
cristianismo é agora uma minoria religiosa.
Já
o Sino auxiliar, que toca para as celebrações litúrgicas, é mais modesto e
pequeno. É dedicado ao Santissímo Sacramento, tal como a Capela Mor da Igreja. Foi
fundido numa das fábricas de sinos mais antigas de Portugal, “A Boa Construtora
- Fábrica Nacional de Relógios Monumentais”. fundada em 1930 por Manuel
Francisco Cousinha, na Rua Capitão Leitão, em Almada, que fabricava relógios monumentais,
sobretudo para monumentos públicos e igrejas. Chegaram a trabalhar 40 operários
nesta oficina no pós guerra.
O
Sino na torre da Igreja do Vale de Santarém foi fundido em 1966.
Fotografias 6 e 7 - Sino auxiliar, com data de 1966. Tem gravado o
Santíssimo Sacramento (tal como a Capela-Mor da Igreja do Vale) e o nome
da Fábrica: Cousinha-Almada.
Agradecemos
à Paróquia, na pessoa do Diácono Pedro Madeira, ter facilitado o acesso à Torre
da Igreja e permitir tirar fotografias, que foram vitais para este estudo.
Arménio Francisca Gomes
Membro dos Corpos Sociais da Associação Cultural Vale de Santarém-Identidade e Memória.
4 Abril 2023
Fiquei fascinada com o estudo aprofundado de todos estes pormenores acerca dos sinos da nossa paróquia.... Igreja do Vale de Santarém.
ResponderEliminarObrigada Arménio. M.Martins
Comentário de Mário Marcos, por mail:
ResponderEliminarParabéns!
Mais um belíssimo trabalho de pesquisa e grande valor histórico., que muito dignifica o Vale de Santarém e os Valsantarenos.
Que toquem os sinos do Vale em louvor do autor e da Associação, que tais membros tem|
Grato
Mário Marcos
Para quando um livro com tantas notas históricas?
ResponderEliminarAgradecemos a sugestão, a qual se enquadra nos nossos propósitos. Também por essa via (edição de livros) haveremos de pôr ao dispor dos naturais do Vale de Santarém e outros interessados tudo o que, de relevante, ao Vale e às suas gentes possa interessar, sobre o seu passado, presente e futuro.
EliminarFiquei muito sensivel a pesquisa ao nivel historico , cultural,et arquitectural que fizeram da memoria da nossa Terra . Bravo !!
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