TOCAM OS SINOS DA TORRE DA IGREJA...

    O som é inconfundível, todos o conhecem quando escutam. A maioria das Igrejas tem um, ou às vezes mais. Hoje falaremos dos sinos da nossa Igreja. 

    Sino vem da palavra sinal. Os sinos têm uma função básica: comunicar, tendo assim um papel social. Pode ser simplesmente as horas, como pelo ritmo do toque sabemos se faleceu alguém ou se irá começar uma celebração litúrgica na Igreja, ou, se toca a repique, é sinal de um casamento ou outra festa na Igreja.


Fotografia 1 – Igreja Paroquial do Vale de Santarém,

tendo no portal inscrito o ano de 1595


    Os sinos são instrumentos antigos que desempenham um papel importante na história e na cultura das sociedades. Acredita-se que os primeiros sinos tenham sido criados na China, há mais de 5 mil anos, e depois se espalharam para o resto do mundo. Na Europa, os sinos foram introduzidos pelos romanos durante a sua expansão territorial. Na Idade Média, os sinos foram adotados pelas igrejas cristãs, e tornaram-se um símbolo da fé e um meio de comunicação com a comunidade.

    Na torre da Igreja de Nossa Senhora da Expectacão, já em 1911 estavam inventariados dois sinos. Contudo, os velhos sinos foram sendo substituídos por outros, durante o século XX.

    Mas não são os dois sinos que ouvimos todos os dias. Normalmente ouvimos apenas o badalar de um sino. O sino realiza o seu toque de meia em meia hora. Quando dá hora certa, o sino bate o número relativo à hora. Por exemplo, se for 10 horas, o sino dará dez badaladas, se for 11 horas, onze badaladas, e assim sucessivamente. Quando o relógio marca meia hora, por exemplo, às 10h30, o sino dá uma badalada.

    O sino da paróquia do Vale de Santarém, que ouvimos frequentemente, foi produzido no Norte de África em 1934! E por esse motivo é um exemplar único na Diocese de Santarém, e provavelmente a nível nacional.

    Tem gravado em si o seguinte texto em Francês, que traduzimos:

“Oferta à Paróquia

Eu chamo-me: Maximiliano-Maria Teresa

E peso 260kg

Fui abençoado em 1934

Quando sua Excelência o Monsenhor Durant era Bispo de Oran

Pelo Sacerdote Mollard

Padrinho Sr. Maximiliano Rato

Madrinha: Sra. Maria Teresa Torres”

 

    Doado à paróquia pelos padrinhos, foi fundido numa fábrica de sinos em Orán.

    Orán é uma cidade localizada no noroeste da Argélia, na costa do Mediterrâneo. É a segunda maior cidade do país, depois da capital, Argel, e é um importante centro comercial, industrial e cultural.

    A cidade tem uma história rica e diversa, que remonta pelo menos ao período romano. Foi ocupada por várias potências ao longo dos séculos, incluindo os berberes, os árabes, os turcos otomanos, os espanhóis e os franceses. Como resultado, a cidade tem uma mistura fascinante de arquitetura e influências culturais.

    Orán é conhecida pela sua música, dança e teatro. A cidade é o lar de muitos artistas e músicos notáveis, e tem uma cena cultural vibrante. Além disso, Orán é famosa pela sua culinária, especialmente os seus pratos de frutos do mar.

    A cidade também tem vários pontos turísticos interessantes, incluindo a mesquita de Sidi El Houari, o forte de Santa Cruz, a catedral de Santa Cruz e a grande praça de Ibn Badis.

Mapa 1 – Localização de Orán no Norte de Argélia


O Sino tem gravadas as armas episcopais de Leon Durand:


Fotografia 2- Armas episcopais no Sino da Igreja do Vale de Santarém.



Figura 1 – Armas Episcopais de D. Leon Durant



    Uma barca propriamente dita, com 7 remos e uma âncora, carregada na proa, com uma pomba com um ramo de oliveira, uma vela também Argenta, carregada com um coração inflamado rodeado por 7 rosas, no topo um lírio de talo próprio, a referida barca navega num mar tempestuoso.

    Tem também inscrita no Brazão Episcopal: “Veritatem in charitate cum Maria matre Jesu”, em português: “Verdade na caridade com Maria mãe de Jesus”.


Fotografia 3- Bispo Leon Durand em 1931

    O sino é dedicado, e por isso tem também gravada a imagem de Nossa Senhora da Graça, que antes estava no altar da Catedral de Orán:


Fotografias 4 e 5 - Capela-Mor da antiga Catedral de Orán, com a 
Imagem de Nossa Senhora da Graça, a mesma que foi gravada 
no Sino Principal da nossa Igreja.

    A Diocese de Orán foi estabelecida em 1866 e abrange a província de Orán, bem como partes das províncias de Mascara e Saida. A diocese tem uma longa história na região, e foi um importante centro missionário durante o período colonial francês. Durante a Guerra da Independência da Argélia (1954-1962), muitos padres e religiosos foram expulsos do país e a igreja sofreu repressão (a antiga catedral é hoje uma biblioteca pública). Desde então, a diocese de Orán tem trabalhado para reconstruir e manter a sua presença na região, onde o cristianismo é agora uma minoria religiosa.

    Já o Sino auxiliar, que toca para as celebrações litúrgicas, é mais modesto e pequeno. É dedicado ao Santissímo Sacramento, tal como a Capela Mor da Igreja. Foi fundido numa das fábricas de sinos mais antigas de Portugal, “A Boa Construtora - Fábrica Nacional de Relógios Monumentais”.  fundada em 1930 por Manuel Francisco Cousinha, na Rua Capitão Leitão, em Almada, que fabricava relógios monumentais, sobretudo para monumentos públicos e igrejas. Chegaram a trabalhar 40 operários nesta oficina no pós guerra.

    O Sino na torre da Igreja do Vale de Santarém foi fundido em 1966.


Fotografias 6 e 7 - Sino auxiliar, com data de 1966. Tem gravado o 
Santíssimo Sacramento (tal como a Capela-Mor da Igreja do Vale) e o nome
da Fábrica: Cousinha-Almada. 


    Agradecemos à Paróquia, na pessoa do Diácono Pedro Madeira, ter facilitado o acesso à Torre da Igreja e permitir tirar fotografias, que foram vitais para este estudo.

Arménio Francisca Gomes

Membro dos Corpos Sociais da Associação Cultural Vale de Santarém-Identidade e Memória.

4 Abril 2023 

Comentários

  1. Fiquei fascinada com o estudo aprofundado de todos estes pormenores acerca dos sinos da nossa paróquia.... Igreja do Vale de Santarém.
    Obrigada Arménio. M.Martins

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  2. Comentário de Mário Marcos, por mail:
    Parabéns!
    Mais um belíssimo trabalho de pesquisa e grande valor histórico., que muito dignifica o Vale de Santarém e os Valsantarenos.
    Que toquem os sinos do Vale em louvor do autor e da Associação, que tais membros tem|
    Grato
    Mário Marcos

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  3. Para quando um livro com tantas notas históricas?

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    Respostas
    1. Agradecemos a sugestão, a qual se enquadra nos nossos propósitos. Também por essa via (edição de livros) haveremos de pôr ao dispor dos naturais do Vale de Santarém e outros interessados tudo o que, de relevante, ao Vale e às suas gentes possa interessar, sobre o seu passado, presente e futuro.

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  4. Fiquei muito sensivel a pesquisa ao nivel historico , cultural,et arquitectural que fizeram da memoria da nossa Terra . Bravo !!

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