190 ANOS DA NECRÓPOLE DO VALE DE SANTARÉM
Mas desde quando os nossos entes queridos são sepultados
no atual cemitério?
As lápides mais antigas no nosso cemitério datam do final
do século XIX (gavetões escondidos atrás dos jazigos antigos), época em que
foram feitas obras no cemitério (1874), pelo Padre Manoel Joaquim Marques,
porque “estava em muito más condições”.
Contudo, o primeiro registo de um funeral no Cemitério do Vale data de 13 de novembro de 1833. Há 190 anos o pároco da época, o Padre Joaquim José da Silva, presidiu às Exéquias Fúnebres de Margarida Joaquina. Este é o primeiro registo de um funeral no Cemitério do Vale:
Até então, os enterros eram feitos no interior da Igreja ou no adro da Igreja.
A inumação nas igrejas era tida como «dever de religião»,
para que os mortos estivessem sob a proteção de Deus.
Para a Igreja Católica, já no 2.º concílio Bracarense
(século VI) se havia proibido o sepultamento nas igrejas, porém, tal proibição
não venceu o uso.
Mas foi com o Iluminismo, na segunda metade do século XVIII,
que a Europa iniciou o processo de alterar o costume de enterrar os defuntos
dentro das Igrejas para cemitérios fora dos templos de culto, devido às pestes
que se geravam na época. Em França, o processo iniciou-se com o decreto de Luis
XIV em 1776, e em Espanha o processo dá-se com a real Cédula de Carlos IV em
1789. Apesar dessas leis, houve resistência clerical e popular a essa mudança, o
que levou a que só na década de 1820 fosse totalmente aplicada em toda a
Espanha.
Em Portugal, no ano de 1787, médicos, intelectuais e
altos funcionários do Estado, como Pina Manique, reclamavam os enterramentos
fora das igrejas, por motivos de saúde pública.
Mas será D. Pedro, em plena guerra civil (1833) que proíbe os enterros nas igrejas, nos adros e nos claustros, pela epidemia de cólera morbus, que grassava em Portugal e a nível internacional. Essa ordem, passou a lei por decreto em 21 de Setembro de 1835 (já no reinado de D. Maria II).
Doentes em isolamento vítimas da cólera Morbus |
Esta decisão foi muito polémica e demorou algumas décadas, até que se estendesse a todo o território nacional (temos como exemplo de resistência, a Revolta da Maria da Fonte, em 1846).
A transição foi “suavizada”, pelo recurso a terrenos
próximos das Igrejas e, no Vale de Santarém, não foi exceção.
O último enterro registado na Igreja do Vale foi em 29 de outubro de 1833, da Senhora Genoveva Roza, viúva de Manoel da Motta:
Se no interior da igreja existia lugar de destaque para os ricos e uma vala comum para os pobres, a nova necrópole do Vale tornou-se também um “espelho” da sociedade dos vivos. Onde podemos ver no topo do Cemitério original os jazigos das famílias mais ricas (exemplo, do jazigo da Marquesa da Ribeira Grande) e os pobres sepultados diretamente na terra.
A evolução e a mudança de hábitos, muitas vezes na história, deveram-se às Epidemias, que obrigam a Humanidade a adaptar-se para sobreviver. A criação de Cemitérios Públicos foi uma resposta à Epidemia de 1833, que permanece até aos nossos dias...
Mapa do actual Cemitério do
Vale de Santarém
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Bravo...
ResponderEliminarComentários recebidos por mail:
Eliminaraugusto graça
16/02/2023, 22:50 (há 2 dias)
Ex.mo Senhor
Manuel Sá
Muito obrigado pelo texto que teve a amabilidade de me enviar.
Acho muito interessante recortes deste tipo, sobre o Vale de Santarém.
Os meus agradecimentos
Augusto Graça
António Figueiredo
16/02/2023, 23:51 (há 2 dias)
Excelente pesquisa ..
Parabéns ao Armênio.
Manuel Branco
17/02/2023, 18:06 (há 22 horas)
Bom trabalho. Gostei de ler. Um abraço
Manuel Branco
Obrigado ao Arménio por esta publicação, é um contributo importante para todos quantos se interessam por este tipo de coisas. Obrigado também à associação vale de Santarém identidade e memória pela sua aplicação.
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