PROGRAMA DE EVOCAÇÃO E HOMENAGEM AO MAESTRO VENCESLAU PINTO (1883-1973).

Hoje, dia 3 de Jan. 2023, passam 140 anos sobre o nascimento de Venceslau do Amaral Pinto, figura de grande relevo da música e da cultura portuguesa do seu tempo, pessoa bastante ligada ao Vale de Santarém, onde viveu por largos períodos, com a sua esposa, D. Maria da Esperança (da família Silva Nogueira) na casa de sua propriedade, na zona da Torre.

No Vale de Santarém, colaborou com Fernando Costa, professor da Escola Primária, e João d'Aldeia, poeta, nos ensaios das récitas representadas pelas crianças da escola, que aquele professor dinamizou, e que ainda hoje fazem parte das memórias de muitos.
"Foi oboísta, compositor, orquestrador, maestro, diretor musical e professor de oboé, de instrumentos de palheta, bandolim e composição, tendo um dos seus mais notáveis alunos sido, em 1966, o violinista, violetista e compositor Ernesto Rodrigues (1959- ).

Foi um dos sócios fundadores - e pertenceu durante vários mandatos aos corpos gerentes - da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses (SECTP), precursora da Sociedade Portuguesa de Autores.

Enquanto instrumentista colaborou com diversas orquestras, de entre as quais se destacam a Grande Orquestra Portuguesa – fundada e dirigida pelo maestro Michel'Angelo Lambertini, em atividade entre 1906 e 1908 (Cascudo, 2006; Santos, 2010) -, a Orquestra Sinfónica Portuguesa e a Orquestra Sinfónica de Lisboa.

Como compositor, ter-se-á estreado ainda no final do séc. XIX com uma ópera cómica onde colaborou com Joaquim Fernandes Fão (Silva, 2010). A sua produção musical estendeu-se a variados géneros, desde a opereta (com obras como O João Ratão, 1920; O poço do bispo, 1924; Bairro Alto, 1927; Ribatejo, 1939), passando pelo teatro de revista (de que são exemplos Fogo de vistas, 1913; O novo mundo, 1916; Pão de ló, 1925; Cabaz de morangos e Rosas de Portugal, 1926; Chá de parreira, 1927; ou A lei do inquilino, 1931) e pela música erudita - com obras como 1140 (1940), Sinfonia em si menor (1947) ou Sinfonia em lá (n.d.).

No campo da composição para cinema, destacam-se colaborações em Mademoiselle Écran (1919), de que “(…) não se conhece o paradeiro de qualquer material fílmico (…)" (CinePT, 2019); A revolução de Maio (1937), com realização de António Lopes Ribeiro, como veículo de propaganda política do Estado Novo; Viagem de Sua Excelência o Presidente da República a Angola (1939) - uma “reportagem cinegráfica da visita do Chefe do Estado, Óscar Carmona, a Angola” (CinePT, 2019) - e Feitiço do Império (1940), ambos realizados também por António Lopes Ribeiro, com direção musical de Pedro de Freitas Branco. Em 1959, colaborou, a par de compositores como Raul Ferrão, Luís de Freitas Branco, Viana da Mota e Ruy Coelho (entre outros), em Rapsódia portuguesa, de João Mendes.

Foi diretor musical da Companhia Taveira, da Companhia Luís Galhardo, da Companhia de Estêvão Amarante e da Companhia de Armando de Vasconcelos.

Desempenhou o cargo de maestro em diferentes orquestras no âmbito dos quadros da Emissora Nacional: na Orquestra Popular – que viria, na década de 1940 a ser denominada Orquestra Sinfónica Popular -, na Orquestra Sinfónica B, na Orquestra Ligeira de Concerto e na Orquestra de Salão da Emissora Nacional.

Desenvolveu atividades pedagógicas na Sociedade de Concertos e Escola de Música, de Lisboa, fundada em julho de 1902 por Julio Cardona, Guilherme Ribeiro e Matta Junior, onde fez parte do seu primeiro quadro pedagógico como professor de oboé e instrumentos de palheta e, posteriormente, bandolim. Mais tarde, exerceu como professor de composição (1919-1953) no Conservatório Nacional, Lisboa.

Entre as décadas de 1890 e 1900, frequentou a Real Casa Pia de Lisboa. Posteriormente iniciou a sua formação musical no Conservatório Nacional, onde a partir de 1896 estudou oboé e, a partir de 1898, harmonia e contraponto. No mesmo ano (1898), deu início à sua carreira como intérprete, tocando oboé em orquestras de teatro. Em 1902 terminou o curso de harmonia e contraponto no Conservatório Nacional com 8 valores (revista Arte Musical, 15 jul. 1902).

Entre 1945 e 1948 fez parte do júri das três únicas edições dos Prémios para Teatro Ligeiro Musicado, promovidas pelo Secretariado Nacional de Informação.
As incursões pela composição para teatro de revista permitiram-lhe tornar-se um colaborador assíduo do grupo de autores denominado como “A Parceria” de Lisboa (Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos), e dos compositores Tomás del Negro, Alves Coelho e Raul Portela, entre outros e a par dos quais se consagrou como um dos principais compositores para teatro de revista nas décadas de 1910 a 1930.

Artur Agostinho, jornalista e radialista (1920-2011), em entrevista a Pedro Rodrigues (2007), descreveu-o como "(…) um homem muito engraçado como maestro, tinha uma capacidade de dirigir a orquestra, de apanhar a velocidade necessária para que se acabasse nos horários fixados… Por exemplo, nos Serões para Trabalhadores havia um tempo próprio, e se estava um bocadinho atrasado ele acelerava… em pânico…” (p. 176).

Estilisticamente, “adaptava o seu estilo composicional aos géneros que compunha e aos diferentes contextos de performação, sendo a sua música predominantemente tonal, com recurso a cromatismo e a modulações por terceiras e entre tons homónimos” (Silva, 2010, p.1009).", segundo consta de publicação no site do Museu da Universidade de Aveiro.

O Programa de Evocação e Homenagem a Venceslau Pinto, no âmbito dos 140 anos do seu nascimento e dos 50 anos do seu falecimento, é uma das acções que integram o nosso Plano de Actividades de 2023. Constará de diversas realizações, que a seu tempo divulgaremos e, para o efeito, já o anunciámos, com todo o gosto, aos seus familiares.

Venceslau do Amaral Pinto (1883-1973)


Comentários

Mensagens populares deste blogue

A SEGUNDA VISITA GUIADA, NO CORAÇÃO DO VALE DE SANTARÉM, FOI ASSIM...

NOS 220 ANOS DO NASCIMENTO DO ILUSTRE CAPITÃO MARECOS, QUE TEVE QUINTA NO VALE DE SANTARÉM

BULHÃO PATO: VIAJAR DE LISBOA AO VALE DE SANTARÉM NO SÉCULO XIX