NOS 220 ANOS DO NASCIMENTO DO ILUSTRE CAPITÃO MARECOS, QUE TEVE QUINTA NO VALE DE SANTARÉM

    Durante o século XIX, tivemos visitas recorrentes ao Vale de Santarém, de ilustres figuras da cultura portuguesa, à Quinta de Rebello da Silva: Garrett, Herculano, Bolhão Pato, entre outros.

    Contudo, tinha Quinta no Vale outra ilustre e discreta personagem, que atualmente dá nome a uma das ruas do Vale, e que é conhecido por poucos na nossa Vila: o Capitão Marecos.

    Firmo Augusto Pereira Marecos, nasceu em Santarém em 9 de novembro de 1803, filho de José Tiago Marecos e D. Ana Gertrudes Marecos.

    Tal como o seu irmão José Frederico, terá estudado Direito em Coimbra, e abraçou os ideais do liberalismo contra o governo absolutista de D. Miguel I, que governou Portugal durante a Guerra Civil (1828-1834).

    Ele e o seu irmão envolveram-se no movimento da causa liberal, o que os levou a serem perseguidos pelo governo absolutista da época. Por sorte, Firmo teria saído da cidade de Lisboa no final de 1831, e apenas o seu irmão foi preso.

    Durante a Guerra Civil, participou do lado liberal, e foi nomeado 1.º oficial da Repartição Central da Secretaria da Guerra. Pelos seus trabalhos na guerra civil, ganhou o título de Capitão Marecos.

    Iniciou a sua carreira na Torre do Tombo, mas foi à Imprensa Nacional que dedicou a maior parte da carreira, como Administrador-Geral entre 1844 e 1877, onde deixou um reconhecido trabalho, tanto em termos de desenvolvimento tecnológico, quanto de previdência para os funcionários daquela instituição.

    Substituiu o seu irmão na direção desta nobre instituição e, no essencial, prosseguiu os objetivos de modernização iniciados por Frederico Marecos, realizando novas missões a oficinas tipográficas de referência em França, Bélgica e Inglaterra, para renovação tecnológica. Em sequência destas visitas, fez a aquisição de prelos e outra maquinaria, que colocaram a Imprensa Nacional ao nível de suas congéneres europeias. 

José Frederico Marecos, irmão de
Firmo Augusto Pereira Marecos, de quem não
encontrámos imagem

 

    Devido à falta de previdência social na época, em novembro de 1845 Firmo Marecos criou a Caixa de Socorros da Imprensa Nacional, uma espécie de Monte Pio, destinada a apoiar os funcionários daquela instituição em caso de doença (como um subsídio de doença), mediante a contribuição de cada um dos funcionários, com uma pequena quantia deduzida dos seus salários. Esta instituição existiu até 1929, quando Oliveira Salazar fundiu as diversas Caixas de Socorros criadas no século XIX na Caixa Nacional de Previdência, como instituição autônoma responsável pela previdência mútua do funcionalismo público.

    Em 1851, Firmo Marecos nomeou uma comissão composta por alguns dos tipógrafos mais destacados, com o objetivo de criar um "Manual Tipográfico Português", inspirado nas práticas europeias, que deveria resultar em um novo regulamento para a Oficina Tipográfica. Com este projeto de regulamento, pretendia-se estudar a evolução das artes tipográficas nos principais países e analisar as causas do atraso em Portugal, para, em seguida, definir estratégias para o seu avanço e aperfeiçoamento, com base nos manuais franceses. Entre os problemas fundamentais, destacava-se a necessidade de reformar a estrutura profissional, que ainda era obsoleta, e não havia acompanhado essas transformações nem estava devidamente especializada.

    Foi a partir deste projeto que a escola tipográfica foi oficialmente instituída, com a criação de um espaço autónomo, coordenação por um mestre e requisitos mais rigorosos para os candidatos a aprendizes. Nesta organização, foi definido um limite máximo de oito alunos, para evitar desordens no sistema de ensino, num ciclo de quatro anos de aprendizagem, para jovens entre 13 e 15 anos de idade, com preferência dada aos filhos de operários.

    Sob a direção de Firmo Marecos, a Imprensa Nacional modernizou-se tecnologicamente, realizando viagens ao exterior, incluindo Paris, Londres e Bruxelas, e adquirindo prensas e outra maquinaria, que a equipararam às suas congéneres europeias. Isso é evidenciado pelos prémios que ganhou em exposições nacionais e internacionais, como Londres em 1862, Porto em 1865, Paris em 1867, Viena em 1873 e Filadélfia em 1876.

 

Ilustração da visita da Rainha Vitória e do Príncipe Alberto ao pavilhão de maquinaria da 

Grande Exposição de Londres, com equipamento de impressão do Illustrated London News.



    Vítima de doença cerebral, Firmo Marecos faleceu em Lisboa a 22 de dezembro de 1877, deixando um legado único na Imprensa Nacional.

 

    Sua esposa, D. Maria Francisca Ferreira Marecos, veio a falecer quase 18 meses depois, na Quinta deles no Vale de Santarém, onde se tinha recolhido, como relata o jornal Diário Ilustrado de 11 de Junho de 1879.






 

Trabalho de Investigação de ARMÉNIO FRANCISCA GOMES, membro dos corpos sociais da Associação Cultural Vale de Santarém-Identidade e Memória

1 Nov. 2023

Comentários

  1. Mais um relato dos Ilustres nascidos na Nossa Terra muito Obrigado
    Não conhecia de todo

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