Padre Manoel Joaquim Marques, um nome para a história do Vale de Santarém


(Nº. 2 / 2019)

Enviou-nos Arménio Francisca Gomes o seguinte, sobre a figura do padre Manoel Joaquim Marques que, durante 38 anos, esteve de serviço no Vale de Santarém.

"Apesar de já serem vários os séculos de Cristianismo e da sua influência nos costumes das nossas gentes, reza a história que apenas no século XXI, do Vale de Santarém foi ordenado um sacerdote da nossa terra. Contudo, vários são os sacerdotes que por aqui passaram, tendo deixado uma marca positiva no nosso povo, pelo seu testemunho, pelo cuidar pelo próximo, pelas obras realizadas para serviço à comunidade, pelo seu papel de apaziguamento nos momentos mais tensos da nossa história. O Padre Manoel Joaquim Marques é um exemplo de tudo isso.

O Vale de Santarém foi alvo das invasões francesas e estas destruíram todos os arquivos da nossa paróquia até então. Assim sendo, o registo da nossa vida, registo da nossa vivência religioso-civil (dada a não separação do Estado e da Igreja nesta época) foi apagado da história, quase na sua totalidade.

Nestes dois séculos de registos existentes verificamos que o Padre Manoel Joaquim Marques foi o sacerdote que mais anos dedicou à nossa terra: 1860-1882 e de 1894 a 1910, totalizando assim 38 anos de serviço ao Vale de Santarém.

Obras:
Várias são as obras que as fontes históricas atribuem ao papel congregador e empreendedor do Padre Manoel Joaquim Marques. Os restauros na Igreja e sua parte envolvente. O sino grande é datado desta época. A escadaria para facilitar o acesso aos cidadãos está datada de 1905 e a construção dos muros antigos do Cemitério e das obras no mesmo, pois se “encontrava bastante danificado”. As fontes referem ainda que promoveu a recolha de fundos para a restauração da ponte do Vale, que de outra forma não teria chegado até aos nossos dias.

O papel pacificador:
Os movimentos migratórios da segunda metade do século XIX deixaram marcas no Vale, que ainda hoje se refletem. Trouxeram à nossa terra as gentes de Cadima que, após terem terminado o trabalho para o qual foram contratados, decidiram ficar no Vale. Os antigos moradores da terra, que sempre se dedicaram ao campo, viram o preço da jorna recebida diminuir drasticamente, devido ao incremento de mão de obra na terra. As rixas entre os dois povos era tal que os do Vale só podiam passar a fonte de Uma Bica para ir ao trabalho e o povo de Cadima só podia passar a fonte das Três Bicas para ir à Igreja.

Ora, o Padre Manoel Marques tentou ser uma ponte de mediação entre estes dois povos. A ele se deve o atual título da Padroeira do Vale: Nossa Senhora da Expectação e do Ó. Que relevância terá isso? O Padre Manoel tentou através da imagem de Nossa Senhora congregar os dois povos. Até então, a padroeira do Vale era conhecida como a Senhora da Expectação. A Padroeira de Cadima é a Senhora do Ó. Como Nossa Senhora só existe uma, apesar dos seus inúmeros títulos, este foi o modo como se tentou unir o Vale. Através dela e da procissão anual, cujo percurso nesta época foi definido, passando pelas casas do povo de Cadima e pelo povo do Vale.

Atualmente existe a ideia errada de que o nosso contemporâneo Padre Manuel Branco foi o padre com mais anos no Vale... Mas, na verdade, os arquivos históricos da Torre do Tombo dizem outra coisa...

Proponho até que este Padre Manoel tenha direitos de Toponímia... Talvez nem seja necessária uma rua com o seu nome... Talvez uma pequena placa na escadaria de acesso ao largo da Igreja, ou mesmo numa parede desse largo, em sua memória...

Fica a ideia.

Arménio Francisca Gomes
Membro dos corpos sociais da Associação Cultural Vale de Santarém-Identidade e Memória".

Igreja do Vale de Santarém-Restaurada em 1595.  Padroeira: Nossa Senhora da Expectação e do Ó.
Foto de Manuel João Sá,  em 3 Set 2014.
A torre sineira da Igreja do Vale de Santarém.
Foto de Manuel João Sá, em 3 Set 2014. 
Escadaria de acesso à Igreja do Vale de Santarém.
Foto de Manuel João Sá, em 3 Set 2014.
Inscrição, no topo superior da escadaria de acesso à igreja do Vale de Santarém.
1905, ano da sua construção, durante a segunda parte do serviço do padre
Manoel Joaquim Marques, na paróquia de Vale de Santarém.
Foto de Manuel João Sá, em 3 Set 2014.
Ponte do Vale, sobre o rio Maior, afluente do Tejo. A sua reconstrução teve decisiva acção
do padre Manoel Joaquim Marques
Foto de Manuel João Sá, em 1 Abril 2016. 












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