Nossa mensagem na Homenagem aos Combatentes da I Guerra Mundial naturais do Vale de Santarém, em 24 Nov. 2018
(Nº. 1 / 2019)
Senhor Vereador da Câmara Municipal de Santarém;
Senhor Presidente da Junta de Freguesia do Vale de
Santarém;
Senhor Presidente da Assembleia de Freguesia do Vale
de Santarém;
Senhores membros da Assembleia de Freguesia do Vale de
Santarém;
Senhor Padre António José, da Paróquia do Vale de
Santarém;
Senhor Comandante da GNR de Santarém e outras individualidades
civis e militares;
Combatentes da guerra colonial, do Vale de Santarém;
Familiares dos naturais do Vale de Santarém, que,
integrados no CEP-Corpo Expedicionário Português, combateram nos campos da
Flandres, na I Guerra Mundial;
Senhores Convidados de outras Organizações Civis,
Militares e outras;
Cidadãos do Vale de Santarém e de outras origens, aqui
presentes;
Senhoras, Senhores,
Em meu nome pessoal, e em representação da jovem
Associação Cultural Vale de Santarém-Identidade e Memória, saudações de boas vindas a todos vós, neste
dia único para a história do nosso Vale, pela realização das comemorações que
hoje aqui têm lugar, por ocasião do I Centenário do Armistício da I Guerra
Mundial quando, ao cabo de quatro anos de horror e miséria, se calaram as
armas, as quais nunca deveriam ter começado a disparar, dia histórico, para não esquecer, e nisso nos devemos
empenhar.
Sim, não esquecer que no início do século vinte, no Vale de Santarém, como em muitos outros lugares deste país, foram arrancados aos seus lares, aos campos, à vida que estavam construindo, trinta e dois homens jovens, chamados a uma missão militar, ou seja, uma missão de matar ou morrer, assim sempre acontece, na guerra, lá longe, na Flandres, em missão de guerra, ao lado de países aliados, contra outras forças militares postas em movimento por líderes dos seus países, com o propósito de domínio, de poder sobre outros povos e suas pátrias e tudo fazer para o conseguir.
Sim, não esquecer que no início do século vinte, no Vale de Santarém, como em muitos outros lugares deste país, foram arrancados aos seus lares, aos campos, à vida que estavam construindo, trinta e dois homens jovens, chamados a uma missão militar, ou seja, uma missão de matar ou morrer, assim sempre acontece, na guerra, lá longe, na Flandres, em missão de guerra, ao lado de países aliados, contra outras forças militares postas em movimento por líderes dos seus países, com o propósito de domínio, de poder sobre outros povos e suas pátrias e tudo fazer para o conseguir.
Foi um tempo que nós hoje não conseguimos imaginar, um
tempo de sofrimento de pais e familiares que, de um momento para o outro, vêem
os seus filhos partirem para a preparação para a guerra, para o imprevisível,
definido por um quadro onde, diga-se, a sobrevivência
está entre os actos de matar e morrer.
Em 1916 a Alemanha declarou guerra a Portugal, estava
então o país à procura de rumo, ainda, com novo regime político após a
implantação da República, varrido por permanentes divisões e revoluções internas.
Continuando sem um verdadeiro exército, longe de estar preparado para tamanha
incumbência, o país vê-se perante um gigantesco compromisso, que assume, apesar
do clima de divisão que se gerou internamente, e que viria a ter efeitos na
tardia e incipiente preparação e motivação das forças militares para o que
viria a seguir.
Insuficientemente preparados, deficientemente
comandados, para o tipo de “guerra de trincheiras” que as tropas tinham de
enfrentar, como tanto tem sido demonstrado e reconhecido, foram enormes as
dificuldades de toda a ordem vividas pelos portugueses, dificuldades que se
espelharam na capacidade de resposta nas acções contra opositores bem treinados,
armados e motivados e em número muito superior, dificuldades que desmotivaram, que
desuniram, que criaram falta de disciplina, clima de insubordinação, de revolta
e de abandono do campo de batalha.
Não admira que, na principal batalha que tiveram pela
frente, a batalha de La Lys, em 9 de Abril de 1918, por uma conjugação de
factores negativos impossíveis de ultrapassar, as forças portuguesas tivessem tido
pesadas baixas, no meio de um sofrimento atroz, que bem poderia ter sido
evitado. Nessa terrível batalha estiveram alguns combatentes nascidos no Vale de Santarém, alguns deles ficando feridos e incapacitados.
Questionamo-nos sempre, e esse é o nosso direito e o
nosso dever, como cidadãos que devemos estar atentos, sermos participativos e
interessados no que se passa à nossa volta, no nosso espaço comunitário, ou no
nosso país, ou no mundo, sobre:
Porquê a guerra? Para quê a guerra, ou as guerras?
Como é possível? Como foi possível? Como foram possíveis
o horror e a miséria da I Guerra Mundial?... Assim como da II Guerra Mundial,
ainda mais brutal e mortífera, como, ainda antes desta, a Guerra Civil de
Espanha? E tantas outras mortandades enormes que, pela via das guerras,
ocorreram depois e hoje continuam, pelo mundo fora?
Perguntamo-nos: mas então o ser humano não aprende outro caminho, outra
prática, para atingir os seus objectivos? Continuamos a ser só animais,
desprovidos de humanidade consciente? Animais sem sensibilidade e respeito pela vida
dos outros? Com que fins? Quem nos comanda para aí? A quem interessa este caminho, que conduz os mais
desprotegidos, os indefesos, os incautos, a maioria das populações, para o
cemitério das guerras?
A verdade é que, em certos momentos da história de países,
de regiões, do mundo todo, ou quase, há um impulso para esta tragédia, para a
morte anunciada, o sacrifício colectivo, tudo preparado e encapotado por
propaganda habilidosa, suficientemente atraente, sedutora, que consegue
arregimentar multidões impreparadas, não esclarecidas, e as impele na vertigem da carnificina, da
loucura. Por detrás estão os verdadeiros interesses de grandes poderes, que nada
têm a ver com a generalidade das populações: têm objectivos próprios, de domínio
pelo dinheiro e por todos os meios que consigam, para manter a sua supremacia
social, financeira e política.
Hoje, ainda, em muitos lugares, a guerra é uma
realidade, que destrói regiões e vidas, deixando terra queimada e miséria. Até quando? Não sabemos. Mas sabemos que o mundo
parece estar a aquecer de novo, não só no que respeita ao clima, não só na tragédia que
se avizinha, se não houver medidas que diminuam a acção dos gases com efeito de
estufa, e esta é uma questão de prioridade absoluta.
Sabemos também que o Mundo está a aquecer com a acção
daqueles que, usando, aparentemente, os direitos da democracia, actuam como
seus coveiros e ameaçam semear ondas de diminuição das liberdades cívicas.
Se as guerras locais e regionais continuam, o que é uma realidade
preocupante, que parece não ter fim, tudo indica que novos perigos mais abrangentes vamos
ter de enfrentar.
Que os campos, os teatros da guerra, não continuem nas
nossas vidas. Por isso mesmo é que temos de lutar. Que onde as guerras ainda acontecem, haja sim
campos e teatros de paz. É disso que a Humanidade precisa. Vias de entendimento,
de cooperação, de solidariedade, de concórdia. De paz.
Aos Familiares dos Combatentes na I Guerra Mundial, que
nasceram ou viveram no nosso querido Vale de Santarém, nestas minhas últimas
palavras, de saudação especial para todos vós, quero dizer, em nome da
Associação Cultural Vale de Santarém-Identidade e Memória, que foi um
privilégio termos contribuído para esta justíssima homenagem. Foi um privilégio
e, sobretudo, um acontecimento que muito nos honra.
Por isso, perante vós, me inclino respeitosamente, em
memória dos vossos familiares que, um dia, tiveram de sair da nossa terra, das
suas famílias, das suas vidas, para tão hedionda guerra, onde o nosso conterrâneo José Matias Júnior acabaria por falecer.
Meu abraço fraterno, para sempre, em representação da
Associação Cultural Vale de Santarém-Identidade e Memória.
Manuel João Sá
24 Nov 2018.
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Mensagem da Associação Cultural Vale de Santarém-Identidade e Memória-24Nov2018-Na Homenagem aos Valesantarenos combatentes na I Guerra Mundial |
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